ESCOLA MUNICIPAL PROF. RAIMUNDO GUERRA
CAICÓ
LÍNGUA PORTUGUESA - PROF. TEREZA CRISTINA
texto de opinião
(argumentativo) que você vai ler foi escrito por André Trigueiro. Em sua
atuação na mídia e na política, ele costuma debater questões polêmicas
relacionadas às questões ambientais.
Observe as opiniões
defendidas por ele neste texto, adaptado.
A farra dos sacos plásticos
O Brasil
é definitivamente o paraíso dos sacos plásticos. Todos os supermercados,
farmácias e boa parte do comércio varejista
embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o
tamanho do produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será
embalado num saquinho plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa
rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo
um saco plástico. Nossa dependência é tamanha, que quando ele não está
disponível, costumamos reagir com reclamações indignadas. Eu não
concordo com essa dependência.
Quem recusa a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico. Outro dia fui comprar lâminas de barbear numa farmácia e
me deparei com uma situação curiosa. A caixinha com as lâminas cabia
perfeitamente na minha pochete. Meu plano era levar para casa assim mesmo. Mas
num gesto automático, a funcionária registrou a compra e enfiou rapidamente a
mísera caixinha num saco onde caberiam seguramente outras dez. Pelas razões que
explicarei abaixo, recusei gentilmente a embalagem.
Em
primeiro lugar, a plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês
Alexander Parkes inventou o primeiro plástico em 1862. O novo material
sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização
moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na
natureza tornaram o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental
de grandes proporções. Feitos de resinas sintéticas originadas do petróleo,
esses sacos não são biodegradáveis e
levam séculos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas,
esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis, e é impossível
definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural. No
caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o
plástico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa
densidade (PEBD). No Brasil são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico
filme, que já representam 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos
impedem a passagem da água – retardando a decomposição dos materiais
biodegradáveis – e dificultam a compactação dos detritos.
Em
segundo lugar, essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil já
justificou mudanças importantes na legislação – e na cultura – de vários países
europeus. Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar à sacolamania.
Quem não anda com sua própria sacola a tiracolo para levar as compras é
obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. O preço é salgado:
o equivalente a sessenta centavos a unidade.
A guerra
contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi aprovada uma lei que
obriga os produtores e distribuidores de embalagens a aceitar de volta e a
reciclar seus produtos após o uso. E o que fizeram os empresários? Repassaram
imediatamente os custos para o consumidor. Além de antiecológico, ficou bem
mais caro usar sacos plásticos na Alemanha.
Em
terceiro lugar, na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto de nove centavos de
libra irlandesa por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número
de irlandeses indo às compras com suas próprias sacolas de pano, de palha, e
mochilas. Em toda a Grã-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a
atenção dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas
da rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis.
Até dezembro deste ano, pelo menos 2/3 de todos os saquinhos usados na rede
serão feitos de um material que, segundo testes em laboratório, se decompõe
dezoito meses depois de descartado. Com um detalhe interessante: se por acaso
não houver contato com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque serve
de alimento para micro-organismos encontrados na natureza.
Além
disso, não há desculpas para nós brasileiros não estarmos igualmente
preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza.
O país que sediou a Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e
Meio Ambiente) e que tem uma das legislações ambientais mais avançadas do
planeta, ainda não acordou para o problema do descarte de embalagens em geral,
e dos sacos plásticos em particular.
A única
iniciativa de regulamentar o que hoje acontece de forma aleatória e caótica foi rechaçada
pelo Congresso na legislatura passada. O então deputado Emerson Kapaz foi o relator
da comissão criada para elaborar a "Política Nacional de Resíduos
Sólidos". Entre outros objetivos, o projeto apresentava propostas para a
destinação inteligente dos resíduos, a redução do volume de lixo no Brasil, e
definia regras claras para que produtores e comerciantes assumissem novas
responsabilidades em relação aos resíduos
que descartam na natureza, assumindo o ônus pela coleta e processamento de
materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida.
O projeto
elaborado pela comissão não chegou a ser votado. Não se sabe quando será.
Sabe-se apenas que não está na pauta do Congresso. Omissão grave dos nossos
parlamentares que não pode ser atribuída ao mero esquecimento. Há um lobby poderoso no Congresso trabalhando
no sentido de esvaziar esse conjunto de propostas que atinge determinados
setores da indústria e do comércio.
Para
finalizar, é preciso declarar guerra contra a plasticomania e se rebelar contra
a ausência de uma legislação específica para a gestão dos resíduos sólidos. Há muitos interesses em jogo. Qual é o
seu?
(André
Trigueiro. A farra dos sacos plásticos. Disponível em http://www.consciencia.net. Acesso em 14/11/11.)
1) O texto trata do
consumo de embalagens plásticas. Transcreva do primeiro parágrafo uma frase que
apresente o assunto.
2) Qual é a opinião
apresentada pelo texto a respeito do assunto?
3) Releia:
“O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina como algo normal,
como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco plástico.”
a) De acordo com o
texto, é possível responsabilizar apenas um grupo pelo consumo exagerado de
embalagens plásticas? Explique.
b) A que se refere o
pronome ISSO no texto?
4) Por que a pessoa que
recusa a embalagem é considerada exótica?
5) O texto apresenta
algumas soluções para evitar o consumo exagerado das embalagens plásticas.
Quais são elas?
6)
O texto apresenta diversos dados numéricos ao leitor.
a) Quais são esses
dados?
b) Qual é a importância
desses dados para o texto?
7) Transcreva um
argumento que confirme a opinião defendida pelo autor de que o uso
indiscriminado de plástico é nocivo.